Eric
Arthur, escritor e jornalista inglês, militante de
esquerda, trotskista, conhecido pelo pseudônimo George Orwell, decepcionado com o
estado burocrático soviético, com aquilo que se transformou a Revolução Russa,
sob a condução de Josef Stálin, como uma forma de denúncia dos vícios da
burocracia e, do suposto, totalitarismo stalinista, nos presenteou com obras
como “REVOLUÇÃO DOS BICHOS” e 1984, nessa última ele teoriza acerca de um
Estado Total, cujos tentáculos avançam sobre todos os âmbitos da vida dos
cidadãos, Estado onde não se tem mais direito à privacidade.
O
engraçado é que nessa obra de ficção, o Estado utópico não se tratava de uma
democracia ocidental, fundada sobre os alicerces do liberalismo inglês e do
contratualismo iluminista do século XVIII. O escritor, ex-trotskista já mais
imaginaria que um Estado construído sobre o pensamento de Jonh Locke, cujas
idéias assentiam no sentido de que um governo que não respeitasse os direitos
civis e individuais dos seus cidadãos deveria ser legitimamente deposto pela
população, tranformar-se-ia no Estado que adotaria a sua utopia do “Grande
Irmão”, e que a pretexto de combater o “terrorismo”, quando Ele mesmo prática
“terrorismo de estado” contra Estados que não lêem na sua cartilha de valores,
uma vez controlando todo o sistema de satélites e fontes de informação do globo
avançaria sobre a privacidade de todo e qualquer cidadão habitante da terra.
É isso mesmo, George Orwell desiludido com os
processos de Moscou que dizimaram revolucionários, a exemplo de Zinoviev e
Bukharin, anteviu no regime soviético o “Grande Irmão”, o Estado Total, a
última e definitiva utopia, a exemplo da “Cidade do Sol” de Campanella. Mal
sabia ele que um Papa vindo da Polônia em articulação com a Direita ultra-reacionária
no comando do Governo dos Estados Unidos, somados aos desmandos da burocracia
estatal e a inconseqüência de uma guerra fratricida contra o Afeganistão
arrastariam à bancarrota o provável Estado “Grande Irmão” e aquele Estado,
suposto campeão das liberdades democráticas é quem, se apossando de todas
as tecnologias comunicacionais até então desenvolvidas pelo homem, inauguraria
a era em que nenhum cidadão do globo teria direito a vida privada.
As revelações do ex-agente da CIA, funcionário
terceirizado da agência de inteligência do governo estadunidense, decepcionado
não com o Estado Aurora dos Povos, mas como o Estado modelo de liberdades,
dando conta de se utilizando dos serviços da internet, de quase todos eles em
rede, a exceção do TWITTER e, ainda, de companhias operadoras de telefonia, o
Governo dos EUA e alguns de seus aliados espionam todo e qualquer cidadão que
fala ao celular ou acessa a rede, em qualquer país do mundo, tudo isso fundado
em razões de Estado, demonstram que o Estado “Grande Irmão” não era o Estado
Stalinista, mas o atual Estado Unidos da América.
Afinal estamos ou não vivendo a era do Estado
Total, do Estado sem fronteiras, quando a pretexto do combate de idéias
terroristas, idéias que não convergem para o seu sistema de valores, um Estado
pode caçar, prender ou exterminar qualquer cidadão em qualquer parte do mundo?
Ocorre que, George Orwell não era de fato um
marxista ortodoxo e muito menos trotskista, uma vez que acreditou que o Estado
Soviético teria futuro aprisionado pela burocracia e viria se tornar no “Grande
Irmão”, mal sabia ele que nem o stalinismo ou nazismo eram de fato modelos
definitivos de estados totais, visto que o totalitarismo de fato estaria por
vir.
Inequivocamente, sob o disfarce de democracia
política e liberalismo econômico, estamos de fato a viver é sob a égide do
Estado Total, da Ditadura, o que se assiste é a total padronização da cultura,
do consumo, do pensamento e, por fim, para, definitivamente, se findar a
possibilidade da existência do individuo livre, se tem a supressão da
privacidade, o total controle.
Agora não são somente aquelas câmeras e olhos
eletrônicos, públicos e privados, instalados nas ruas, que a pretexto de
resguardarem a segurança dos indivíduos, nos devassam noite e dia, uma vez que
na Era do “HOMEM UNIDIMESSIONAL”,
lembrem-se de Marcuse, os párias não permitem que os que se encontram
instalados e, portanto, conformados, vivam em segurança. Temos ,
também, a nível mundial, sob o mesmo pretexto que se utiliza a
bisbilhotice a nível local, porém em dimensões cósmicas, uma vez que o inimigo
nesse contexto, são aqueles que não professam a nossa mesma crença, que não
possuem a nossa mesma cultura, que não pertencem a nossa mesma civilização, são
aqueles que divergem do modelo de organização econômica que defendemos, são
párias que ameaçam a nossa “Ordem” e
a nossa permanência, por isso necessário um olho global, uma estado
supranacional para manter a nossa incolumidade supostamente ameaçada.
Ninguém, nem Platão na sua República, nem
Campanella na sua Cidade do Sol, nem Thomás Morus na sua Utopia, nenhum deles
dotados de imaginação fértil, imaginou que o ‘1984’
seria adiado para o século XXI, não sob a égide da igualdade e partição das
riquezas e das competências entre TODOS
os indivíduos, mas sob o eufemismo das razões de Estado, das defesas de todas
as liberdades e do indivíduo, é que se dá o controle e a homogeneização.
Por: MIGUEL DOS SANTOS CERQUEIRA,
Defensor Público, titular da Primeira Defensoria Pública do Estado de Sergipe,
Coordenador do Núcleo de Defesa de Direitos Humanos da Defensoria- E-mail:
migueladvocate@folha.com.br
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