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terça-feira, 11 de junho de 2013

A ERA ORWELLIANA OU O ADVENTO DO ESTADO TOTAL


Eric Arthur, escritor e jornalista inglês, militante de esquerda, trotskista, conhecido pelo pseudônimo George Orwell, decepcionado com o estado burocrático soviético, com aquilo que se transformou a Revolução Russa, sob a condução de Josef Stálin, como uma forma de denúncia dos vícios da burocracia e, do suposto, totalitarismo stalinista, nos presenteou com obras como “REVOLUÇÃO DOS BICHOS” e 1984, nessa última ele teoriza acerca de um Estado Total, cujos tentáculos avançam sobre todos os âmbitos da vida dos cidadãos, Estado onde não se tem mais direito à privacidade.


O engraçado é que nessa obra de ficção, o Estado utópico não se tratava de uma democracia ocidental, fundada sobre os alicerces do liberalismo inglês e do contratualismo iluminista do século XVIII. O escritor, ex-trotskista já mais imaginaria que um Estado construído sobre o pensamento de Jonh Locke, cujas idéias assentiam no sentido de que um governo que não respeitasse os direitos civis e individuais dos seus cidadãos deveria ser legitimamente deposto pela população, tranformar-se-ia no Estado que adotaria a sua utopia do “Grande Irmão”, e que a pretexto de combater o “terrorismo”, quando Ele mesmo prática “terrorismo de estado” contra Estados que não lêem na sua cartilha de valores, uma vez controlando todo o sistema de satélites e fontes de informação do globo avançaria sobre a privacidade de todo e qualquer cidadão habitante da terra.

É isso mesmo, George Orwell desiludido com os processos de Moscou que dizimaram revolucionários, a exemplo de Zinoviev e Bukharin, anteviu no regime soviético o “Grande Irmão”, o Estado Total, a última e definitiva utopia, a exemplo da “Cidade do Sol” de Campanella. Mal sabia ele que um Papa vindo da Polônia em articulação com a Direita ultra-reacionária no comando do Governo dos Estados Unidos, somados aos desmandos da burocracia estatal e a inconseqüência de uma guerra fratricida contra o Afeganistão arrastariam à bancarrota o provável Estado “Grande Irmão” e aquele Estado, suposto campeão das liberdades democráticas é quem, se  apossando de todas as tecnologias comunicacionais até então desenvolvidas pelo homem, inauguraria a era em que nenhum cidadão do globo teria direito a vida privada.

As revelações do ex-agente da CIA, funcionário terceirizado da agência de inteligência do governo estadunidense, decepcionado não com o Estado Aurora dos Povos, mas como o Estado modelo de liberdades, dando conta de se utilizando dos serviços da internet, de quase todos eles em rede, a exceção do TWITTER e, ainda, de companhias operadoras de telefonia, o Governo dos EUA e alguns de seus aliados espionam todo e qualquer cidadão que fala ao celular ou acessa a rede, em qualquer país do mundo, tudo isso fundado em razões de Estado, demonstram que o Estado “Grande Irmão” não era o Estado Stalinista, mas o atual Estado Unidos da América.

Afinal estamos ou não vivendo a era do Estado Total, do Estado sem fronteiras, quando a pretexto do combate de idéias terroristas, idéias que não convergem para o seu sistema de valores, um Estado pode caçar, prender ou exterminar qualquer cidadão em qualquer parte do mundo?

Ocorre que, George Orwell não era de fato um marxista ortodoxo e muito menos trotskista, uma vez que acreditou que o Estado Soviético teria futuro aprisionado pela burocracia e viria se tornar no “Grande Irmão”, mal sabia ele que nem o stalinismo ou nazismo eram de fato modelos definitivos de estados totais, visto que o totalitarismo de fato estaria por vir.

Inequivocamente, sob o disfarce de democracia política e liberalismo econômico, estamos de fato a viver é sob a égide do Estado Total, da Ditadura, o que se assiste é a total padronização da cultura, do consumo, do pensamento e, por fim, para, definitivamente, se findar a possibilidade da existência do individuo livre, se tem a supressão da privacidade, o total controle.

Agora não são somente aquelas câmeras e olhos eletrônicos, públicos e privados, instalados nas ruas, que a pretexto de resguardarem a segurança dos indivíduos, nos devassam noite e dia, uma vez que na Era do “HOMEM UNIDIMESSIONAL”, lembrem-se de Marcuse, os párias não permitem que os que se encontram instalados e, portanto, conformados, vivam em segurança. Temos, também, a nível mundial, sob o mesmo pretexto que se utiliza a bisbilhotice a nível local, porém em dimensões cósmicas, uma vez que o inimigo nesse contexto, são aqueles que não professam a nossa mesma crença, que não possuem a nossa mesma cultura, que não pertencem a nossa mesma civilização, são aqueles que divergem do modelo de organização econômica que defendemos, são párias que ameaçam a nossa “Ordem” e a nossa permanência, por isso necessário um olho global, uma estado supranacional para manter a nossa incolumidade supostamente ameaçada.

Ninguém, nem Platão na sua República, nem Campanella na sua Cidade do Sol, nem Thomás Morus na sua Utopia, nenhum deles dotados de imaginação fértil, imaginou que o ‘1984’ seria adiado para o século XXI, não sob a égide da igualdade e partição das riquezas e das competências entre TODOS os indivíduos, mas sob o eufemismo das razões de Estado, das defesas de todas as liberdades e do indivíduo, é que se dá o controle e a homogeneização.

Por: MIGUEL DOS SANTOS CERQUEIRA, Defensor Público, titular da Primeira Defensoria Pública do Estado de Sergipe, Coordenador do Núcleo de Defesa de Direitos Humanos da Defensoria- E-mail: migueladvocate@folha.com.br

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