É fato que com a ascensão do Partido
dos Trabalhadores ao governo, à condução da administração dos negócios do
Estado central, por força de eleições no marco da democracia liberal, o Partido
do Trabalhadores que anteriormente já havia feito depuração de setores que
considerava indesejáveis, aqueles da chamada extrema esquerda, avançando em
direção ao centro político, tratou de cooptar e atrair para órbita do governo,
da administração central os movimentos sociais. Assim, a CUT, a Força Sindical,
o MST, a UNE e quase todos os setores do movimento social passaram a se
confundir com o próprio governo, sem autonomia, foi completamente diluído o
espaço para o contraponto e para crítica que devem exercer os movimentos
sociais.
Há não ser os estratos reacionários da Direita
, os segmentos de esquerda que foram expurgados ou saíram voluntariamente e
esquerda católica que se afastou do Partido em razão da opção centrista, houve um adesão
das forças as mais díspares ao governo petista.
Não obstante, embora tenha se
afastado da sua concepção original de construção do socialismo, ainda assim o
Partido permaneceu mais ou menos reformista, o governo sob a direção do PT,
efetivamente, promoveu transformações que tornaram a nossa sociedade mais
igual, com por exemplo, a adoção das cotas raciais, a expansão do ensino
superior, o programa de complementação de renda para as famílias miseráveis, o
chamado bolsa família.
Indubitavelmente, que todas essas
transformações reformistas causaram espanto e preocupação das forças mais
retrógradas e reacionárias da sociedade,
aquelas que sempre pretenderam o monopólio do domínio do Estado, as reservas
dos espaços nas Universidades Públicas e privadas para os seus próceres, além
de nichos exclusivos de consumo que as tornassem diferentes das maiorias e
fossem os únicos a freqüentarem os shoppings centeres.
Malgrado, não confessem
publicamente, existe um ressentimento, uma mágoa, um desejo de vingança de
todas essas forças contrariadas pelo reformismo petista e por isso difamam e
querem desmantelar o governo e barrar toda e qualquer forma de avanço
democrático, para que permaneça o seu status quo, o Establishment, que sempre lhes garantiu o domínio
social e ideológico da sociedade. São forças partidárias de Direita que compõem
o próprio governo de coalizão, são forças da sociedade conservadora, são a
grande mídia.
Todas essas forças, apesar do inconformismo,
embora em permanente atividade de propaganda reacionária, uma vez que sabem,
todas elas, que com a manipulação da opinião pública podem obter êxito nas suas
pretensões regressivas, até então não tinham tido espaço e oportunidade para
empreender sua caminhada no sentido da destruição de todas as poucas conquistas
e transformações reformistas que lhes tirou o monopólio dos espaços nas
universidades, que cortou os grilhões que faziam com que os sem renda, os
miseráveis sem um programa de renda mínima se tornassem seus escravos permanentes, sejam
nas suas cozinhas, sejam nas suas fazendas.
Acontece que, as forças da reação
são de uma esperteza inquestionável, ao passo que os se dizem progressistas
parecem que nunca aprendem com os erros. De fato, é esse quadro que se nos
parece estar a acontecer na presente quadra.
O Movimento Passe Livre, uma agrupamento de esquerda, formado por
militantes de pequenos partido da esquerda Trotskista, PSTU, PSOL e PCO, além
do PCB, esse stalinista, no inicio da administração petista na prefeitura de
São Paulo, do governo do prefeito Fernando Haddad
como já faziam, anteriormente, em outras administrações conservadoras, se
levantaram contra os aumentos das passagens de transportes coletivos urbanos, a
pauta de suas reivindicações era a da gratuidade do transporte, bem
articulados, tomaram as ruas, e as forças da reação que esperavam uma brecha
para imporem sua pautas regressistas não viram melhor momento.
De inicio as manifestações eram contra
o aumento das passagens dos transportes coletivos, primeiro em Porto Alegre,
depois em São Paulo, um processo desencadeado pela esquerda, a chamada
extrema-esquerda; em torno do MPL, que pretendiam avanços nas transformações democráticas,
como por exemplo, a estatização e gratuidade dos transportes públicos,
transformações de se digam são de natureza socialista, portanto, de difícil
adoção nos marcos de sistema capitalista, visto que pensam que as mudanças vêm ocorrendo a passos de
cágado na sociedade brasileira, que se tratam na verdade da consolidação da
hegemonia da burguesia capitalista.
No entanto, por oportunismo, somado
ao imobilismo dos movimentos sociais cooptados pelo Governo central e
engessados na capacidade de serem eles
a imporem uma pauta de transformações do
país que não se confundissem com as opções administrativas do governo, o
processo foi apropriado pelas forças reacionárias, uma vez que possuem o
poderoso instrumento da mídia, verdadeiro partido de oposição à Direita, para
manipular a opinião pública.
A História não se cansa de nos dar
lições, embora parecemos não querer apreender, estamos mais uma vez diante uma
situação de autofagia, quando por erro de cálculo forças de esquerda dão
munição para que as forças da reação promovam o seu próprio esmagamento.
Nunca é bom deixar de lembrar que a
destruição da República de Weimar, que
quadrava enormes características com o atual governo petista, até mesmo pelas
forças de coalizão que o compõem, exceto o corpo de intelectuais, visto que o
regime de Weimar tinha por exemplo o auxílio de Max Weber, e o nosso é pobre de
cabeças pensantes.
A derrocada do regime de Weimar se
inicia com o isolamento e defenestração das forças revolucionárias de esquerda,
com o predomínio de reformista, que se
seguiu com a prisão e execução de Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht, por antigos companheiros de partido.
De fato, um processo autofágico no campo da Esquerda,
completamente dividida entre revolucionários e reformistas, em um momento em
que a economia alemã se encontrava
fragilizada, um período de surto inflacionário e de desemprego em alta, o que
permitiu o sucesso da propaganda anti-partidos, o anti-comunismo, o avanço do moralismo
hipócrita, o nacionalismo, o racismo, os quais conduziram o Nazismo ao
poder.
Importante
ressaltar que para o campo marxista até então majoritário, o processo autofágico
que se implantou com a República de Weimar, o combate dos marxistas
revolucionários pelos reformistas que conduziu a revolução socialista alemã à
derrota e, por conseguinte, a derrota da revolução socialista no ocidente, uma
vez que aprisionada no bolchevismo russo.
Sem
sombras de dúvidas, no aspecto político,
o atual quadro de manifestações de suposta insatisfação, gerado pela propaganda
ideológica disfarçada de jornalismo, guarda semelhanças com momentos históricos
como o que antecederam o fim da República de Weimar no qual a efervescência da
propaganda reacionária, somado ao imobilismo dos setores organizados da
sociedade em decorrência do engessamento dos movimentos sociais pelo governo
reformista e a autofagia seguida da derrota histórica e até extermínio da Esquerda
revolucionária possibilitou a ascensão da Direita ao poder, com trágicas conseqüências.
De fato, a apropriação das
manifestações que foram desencadeadas pela extrema esquerda pelas forças de
Direita, sua pauta conservadora, visto que não propõem uma pauta
verdadeiramente transformadora e democrática como a implementação da REFORMA URBANA, com a democratização do
espaço urbano, inclusive no aspecto da mobilidade e, ainda, com fim da
especulação imobiliária; a efetivação da REFORMA
AGRÁRIA, com a adoção dom sistema de cooperativas rurais para inserir as
pequenas propriedades no âmbito do capitalismo vigente, possibilitando a
concorrência com o agronegócio; a
implementação dos dispositivos constitucionais para DEMOCRATIZAÇÃO DA MÍDIA mitigando os efeitos danosos da
concentração monopolista; o FORTALECIMENTO
DO SUS para garantia de acesso à saúde pública e minorar os efeitos danosos
da medicina comercial ; o CONTROLE do MINISTÉRIO PÚBLICO e das DEFENSORIAS
PÚBLICAS através de Conselhos e/ou de Ouvidorias autônomas, visto se fazer
necessário maior transparência nas ações dos membros destes entidades; uma
efetiva REFORMA DO SISTEMA POLÍTICO, conforme
o proposto pela Presidenta Dilma, com adoção da fidelidade partidária, fim de
coligações, voto distrital misto, semelhantemente ao sistema alemão ou belga, fim
da reeleição, financiamento público de campanha, mandato de cinco anos para os
cargos majoritários e reunião das eleições municipais e estaduais em determinada
data e eleições presidenciais e de deputados federais e de 1/3 dos senadores em
uma outra data, além de uma REFORMA
EDUCACIONAL para melhoria da qualidade gerencial do ensino público e
extirpação do câncer do ensino privado, verdadeiro negócio.
Inequivocamente,
o que advém das ruas, dos setores médios da sociedade, são vociferação de mantras contra o BOLSA FAMÍLIA, CONTRA OS PARTIDOS, CONTRA A CORRUPÇÃO, FIM DA VIOLÊNCIA CRIMINAL E CONTRA A
INFLAÇÃO SUPOSTAMETE DESCONTROLADA e por aí vão, tudo em concertação
com os órgãos de imprensa que desencadearão um processo de enfrentamento e
desconstrução de uma democracia inclusiva .
Além de não possuírem quaisquer boas
intenções de mudanças, a não ser pescarem em águas turvas, os direitistas,
sobretudo aqueles incrustados nos órgãos da grande mídia, que seqüestraram o movimento desencadeado de
MPL, que se diga por se voltar contra uma administração municipal petista, a do
Prefeito Fernado Haddad, menos centrista que a própria administração do governo
central foi autofágico.
O fato de usarem de violência física, espancamento e até apedrejamento
contra militantes dos partidos esquerda,
poupando só aqueles dos partidos da Direita, somada a queima de bandeiras de
partidos de esquerda e de movimentos sociais como MOVIMENTO NEGRO e MST, em
São Paulo, Goiânia, Rio de Janeiro e
outras praças, deixa às claras os métodos e revela as
verdadeiras intenções fascistas de parte dos que engrossaram as manifestações.
Nos parece que foi a deixa, a
oportunidade para em contraponto a pauta conservadora, os movimentos sociais,
uma vez se desgarrando do governo, colocarem na ordem do dia uma pauta
democrática, inclusive, apoiando
inexoravelmente a REFORMA POLÍTICA, opondo óbice a marcha que pode bem sucedida
da regressão, da ascensão do TEA
PARTY brasileiro na direção da reversão de todas as conquistas das
massas na última década.
MIGUEL DOS SANTOS CERQUEIRA, Defensor Público titular da Primeira Defensoria Pública do Estado de
Sergipe, Coordenador do Núcleo de Defesa
de Direitos Humanos e Promoção da Inclusão Social da Defensoria Pública do
Estado de Sergipe, possui formação a nível médio de Técnico em Contabilidade,
E-MAIL: migueladvocate@folha.com.br
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