“Nunca achei que politica fosse profissão. Apresentei o projeto para extinguir a aposentadoria de vereador em Aracaju e não aceitei os benefícios da indenização e do subsídio mensal instituído pela Lei da Anistia para os presos políticos porque já me sinto contemplado, desde 1988, com o advento da Constituição Cidadã, que restituiu os meus direitos políticos. Receber é legal, mas não é moral”. A declaração foi feita pelo ex-vereador de Aracaju e fundador do PT em Sergipe, Marcélio Bomfim, durante a sabatina da 32ª edição do NósnoCabaré.comConvidados, realizada na noite da quinta-feira (18).
“As minhas convicções não morreram porque não morre o que nunca nasceu. Nunca existiu socialismo no Brasil. O socialismo é a democracia no mais alto grau de desenvolvimento”, teoriza.
Na próxima quarta-feira, dia 24 de agosto, Marcélio Bomfim completa 50 anos de militância política. “Há 50 anos, ao lado do jornalista Paulo Barbosa, estava na frente da prefeitura de Aracaju, com o então prefeito José Conrado de Araújo, em ato de resistência à ameaça de invasão do exército ao prédio da prefeitura”, relembra.
Natural de Canhoba/SE, oriundo do Partido Comunista Brasileiro – PCB, preso político e torturado durante o regime militar, exilado por 3 anos na União Soviética, atualmente com 67 anos e sem exercer mandato eletivo, Bomfim se declara com força e disposição para se fazer política.
Recomeçar - “Ninguém precisa ter mandato ou ser candidato para fazer política. Se houver necessidade de começar tudo de novo, de organizar a formação de um partido político e de trabalhar pelo Brasil, farei tudo de novo e sem nenhuma mágoa”.
Em vida, Marcélio Bomfim já figura na história do Brasil e de Sergipe entre os “Ícones de um Terremoto”, livro escrito por Paulo Barbosa, distribuído e autografado por Paulo Barbosa Filho, no Cabaré de 5ª.
“Estou vivo hoje graças a dois jornalistas: Milton Alves e Paulo Barbosa, que, como correspondentes do jornal Estado de São Paulo, tiveram a coragem de denunciar, por telex, prisão e tortura dos companheiros no Quartel do 28º BC em Sergipe”, agradece emocionado.
Além de Marcélio Bomfim e Paulo Barbosa, enfrentaram prisão e tortura durante o regime militar: Milton Coelho, Luís Eduardo Costa, Antônio Joaquim, Wellington Mangueira e a esposa Laura Marques, Agonalto Pacheco, Delmo Nazia, Antônio Góis ( ex-vereador Goisinho), Paulo Hilário, Carivaldo Lima Santos, Rosalvo Alexandre, Carlos Alberto Menezes (Charles) e Elias Pinho (Promotor de Justiça).
O ex-vereador afirma que o Partido Comunista Brasileiro se acabou entre 1979 e 1980 com a queda do Muro de Berlim. “Nosso partido se acabou. Sucumbiu com o fim do Leste Europeu”, repete, lembrando ter ouvido a sentença de Luís Carlos Prestes, o que motivou o início do movimento Pró-PT.
Pró-PT - “Quando tomei a decisão de ajudar a organizar o PT, faltava no Brasil um partido com compromissos com uma sociedade mais justa, igualitária e socialmente democrática”, defendeu, acrescentando que aceitou ser, em 1982, o primeiro candidato a governador de Sergipe pela sigla, atendendo a estratégia nacional de apresentar candidaturas próprias no maior número de estados. “Naquela eleição, a maior vitória do PT não seria contada pela quantidade de votos ou de parlamentares eleitos, mas pelo número de candidaturas aos governos apresentadas”, esclareceu.
Ele confessa ter abonado a ficha de filiação ao PT do então estudante Marcelo Déda. “Fico feliz em ver que alguém que caminhou ao nosso lado cresceu e se tornou uma das maiores lideranças políticas de Sergipe”. Mas, admite nunca ter votado em Marcelo Déda para cargo majoritário. “Espero estar vivo em 2014 para ir para fila votar nele para senador, devolvendo o voto que ele me deu em 1982”, declarou, alegando que o petista se mostra um excelente parlamentar e deixa a desejar como administrador.
Alianças - “A sociedade precisa de saúde, educação e segurança pública e nada disso está acontecendo no governo dele”, justificou, apontando o desvirtuamento do projeto político originário do Partido dos Trabalhadores em favor de “alianças escusas”.
Bomfim aponta “o ex-deputado federal Iran Barbosa e a atual deputada estadual Ana Lúcia Vieira como os dois únicos carregadores de sonhos dentro do PT”.
“No cabaré, é apropriado dizer que a aliança entre Marcelo Déda (PT), Jackson Barreto (PMDB) e Antônio Carlos Valadares (PSB) é uma verdadeira suruba política”, resumiu, alegando que “eram todos inimigos e, politicamente, hoje, dormem todos juntos”.
“Onde estão os grandes quadros do PT? Na Casa Civil? Na secretaria da Fazenda? Na direção do Banese? Na secretaria da Educação?”, cobrou, ressalvando apenas o nome de José Oliveira Júnior, como um grande quadro técnico do PT, ocupando hoje a Secretaria de Planejamento, Orçamento e Gestão - Seplag.
Marcélio também justifica sua reprovação às gestões Marcelo Déda, argumentando que, em 2000, Déda foi eleito prefeito de Aracaju, prometendo desprivatizar a prefeitura. “Ele não fez a licitação pública do transporte, não acabou com o contrato da empresa Torre, não fez a retirada das máquinas dos parquímetros, que levavam 94% da receita do estacionamento”, condenou.
Arrependimentos - Apesar dos dissabores, Bomfim confessou apenas dois arrependimentos: O primeiro foi, sob o comando de Jackson Barreto (PMDB), ter traído José Carlos Teixeira (PMDB), na disputa pelo Governo do Estado em 1986, apoiando o então candidato Antônio Carlos Valadares (PSB).
Virulento - “Valadares foi o governo mais virulento que Sergipe já viu. Durante a campanha de Wellington Paixão à PMA, Valadares botou a polícia para não nos deixar entrar nos arraiás nos bairros. Conseguimos manter a campanha por força de decisão judicial”, protestou.
“Valadares foi o governo mais truculento com as manifestações dos professores. Marcelo Déda, então deputado estadual, chegou a ser empurrado pela polícia no meio de uma manifestação”, relatou.
Dilma - O segundo arrependimento é de não ter votado em Dilma Rousseff (PT/RS) para presidente da República em 2010. “No primeiro turno, votei num companheiro de lutas, o Plínio de Arruda Sampaio (Psol). No segundo turno, votei em José Serra (PT) por não ter acreditado que ela (Dilma) seria uma administradora muito melhor do que Lula.
“Ela vem mostrando que é uma administradora eficiente porque Lula, toda a sujeira que houve no seu governo, ele escondeu embaixo do tapete”, criticou.
PMA 2012 - Ele demonstrou pouca crença ao ser questionado sobre a possibilidade de uma candidatura do deputado federal Almeida Lima (PMDB) à PMA em 2012. “Almeida Lima não junta, não agrega, não acredito que tenha condição de ser candidato à Prefeitura de Aracaju em 2012”, admitiu.
Construtoras - Instigado a avaliar a administração de Edvaldo Nogueira, Marcélio Bomfim declarou que “todos os prefeitos eleitos em Aracaju, ao assumirem o mandato em 1º de janeiro, escolheram uma construtora para administrar a capital”.
Segundo ele, na gestão de Jackson Barreto, pela afinidade com José Carlos Teixeira, a construtora beneficiada foi a Norcon.
“Quem disser que Jackson roubou na prefeitura, estará mentindo. Ele foi um irresponsável, autorizando obras nos bairros para eleger Valadares governador. Mandou que as construtoras fizessem as obras, deixando para abrir a licitação somente depois. A conclusão disso é que até hoje existem ruas em Aracaju que não podem ser pavimentadas porque constam na prefeitura como já asfaltadas”, relatou.
Segundo Marcélio, depois de eleito e de posse da documentação das irregularidades praticadas na PMA, Valadares teria urdido a cassação de Jackson Barreto. “Pegou essa papelada toda e entregou na mão de um deputado brilhante, que agiu como um verdadeiro promotor – Marcelo Déda”.
Voltando a comentar influência das construtoras nas administrações públicas, declarou desconhecer o vínculo estreito estabelecido com o Governo Déda. “Ainda não consigo dizer qual a construtora escolhida para governar junto com Déda. Mas, posso dizer que o mais inteligente de todos foi Edvaldo Nogueira, que ao invés de se juntar, preferiu se associar, casando-se com uma construtora”.
Cabaré Bambu - No cabaré de 5ª, Bomfim confirmou informação divulgada pelo jornalista Diógenis Brayner de que, durante o processo de mobilização e organização para fundação do Partido dos Trabalhadores em Sergipe, uma das andanças feitas com Lula (PT), ex-presidente da República, finalizou no Cabaré Bambu, à época localizada na saída de Aracaju. “Neste dia, tomamos pindaíba e comemos bolachão”.
Ele ainda lembra que, ao entrar de forma clandestina, pela primeira vez, no Cabaré Miramar, já percebeu as mesas cheias de autoridades. “Dali saíam as grandes decisões em Sergipe”. (Por Eliz Moura)
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