Eu me assustei um pouco com este vídeo. Confesso. A mulher em
questão fala que o valor da bolsa não lhe garante, por exemplo, a condição de
comprar uma calça para sua filha adolescente - afinal, é necessário gastar pelo
menos uns R$300,00 pra comprar uma boa calça pra ela (!).
É evidente que a declaração dói aos ouvidos, e com certeza dá
munição para aqueles que são contrários aos programas de transferência de
renda. Eu poderia argumentar, porém, que uma explicação possível para este
dilema seria a "cultura do consumo", que move multidões e mercados no
seio de uma sociedade sediada no modo de produção capitalista. Pobre tem
vontade de gastar, e muitas vezes gasta o que não tem pra gastar. E do outro
lado tem a propaganda, a produção, a riqueza, o status, tudo isto seduzindo a
torto e a direito aqueles que não conseguem direcionar suas reservas para
suprir de fato suas necessidades (se é que conseguem).
Porém, creio que este caminho é bastante difícil. Preferi então
caçar algumas informações a respeito dos impactos do Bolsa Família. Eu já havia
divulgado uma notícia sobre a porcentagem de beneficiados que deixaram o
programa por iniciativa própria. Encontrei, há pouco também, um artigo
comentando as melhorias que o Bolsa Família trouxe para o PIB brasileiro, e
para os índices de saúde e educação entre os beneficiários. "O índice de
crianças e adolescentes de 6 a 16 anos fora da escola diminuiu em 36%, segundo
o Ministério do Desenvolvimento Social e de Combate à Fome. A desnutrição
infantil caiu de 12,5% para 4,8% de 2003 a 2008, entre crianças menores de 5
anos atendidas pelo Bolsa Família". Se estes impactos forem reais, é
possível dizer que, na verdade, os gastos das famílias beneficiadas passam
longe das superficialidades como a que foi exibida no vídeo.
Aproveitando a deixa, queria também registrar um estudo sobre
programas de distribuição de renda em outros países do mundo. Há uma tabela
informando o início destes programas. A Dinamarca iniciou seu programa de
transferência de renda em 1933; o Reino Unido, em 1948; a Finlândia, em 1956; a
Suécia, em 1957; a Alemanha, em 1961. Outros países europeus também são
citados, e grande parte deles possuem hoje altos índices de IDH. A Grécia, pelo
contrário, não tem programas de transferência de renda (pelo menos até a
publicação do estudo). Evidentemente consideradas as circunstâncias, e diversos
outros fatores que não apenas os programas de transferência de renda, não
preciso lembrar em que situação lamentável os gregos se encontram.
E isto pra deixar claro que programa de transferência de renda
não é, por essência, política de país populista e corrupto.
Escrito por Sydnei Melo - Campinas SP - e-mai: sydneiulisses@gmail.com
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