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terça-feira, 28 de maio de 2013

Uma nota sobre o Bolsa Família

Eu me assustei um pouco com este vídeo. Confesso. A mulher em questão fala que o valor da bolsa não lhe garante, por exemplo, a condição de comprar uma calça para sua filha adolescente - afinal, é necessário gastar pelo menos uns R$300,00 pra comprar uma boa calça pra ela (!).


É evidente que a declaração dói aos ouvidos, e com certeza dá munição para aqueles que são contrários aos programas de transferência de renda. Eu poderia argumentar, porém, que uma explicação possível para este dilema seria a "cultura do consumo", que move multidões e mercados no seio de uma sociedade sediada no modo de produção capitalista. Pobre tem vontade de gastar, e muitas vezes gasta o que não tem pra gastar. E do outro lado tem a propaganda, a produção, a riqueza, o status, tudo isto seduzindo a torto e a direito aqueles que não conseguem direcionar suas reservas para suprir de fato suas necessidades (se é que conseguem).

Porém, creio que este caminho é bastante difícil. Preferi então caçar algumas informações a respeito dos impactos do Bolsa Família. Eu já havia divulgado uma notícia sobre a porcentagem de beneficiados que deixaram o programa por iniciativa própria. Encontrei, há pouco também, um artigo comentando as melhorias que o Bolsa Família trouxe para o PIB brasileiro, e para os índices de saúde e educação entre os beneficiários. "O índice de crianças e adolescentes de 6 a 16 anos fora da escola diminuiu em 36%, segundo o Ministério do Desenvolvimento Social e de Combate à Fome. A desnutrição infantil caiu de 12,5% para 4,8% de 2003 a 2008, entre crianças menores de 5 anos atendidas pelo Bolsa Família". Se estes impactos forem reais, é possível dizer que, na verdade, os gastos das famílias beneficiadas passam longe das superficialidades como a que foi exibida no vídeo.

Aproveitando a deixa, queria também registrar um estudo sobre programas de distribuição de renda em outros países do mundo. Há uma tabela informando o início destes programas. A Dinamarca iniciou seu programa de transferência de renda em 1933; o Reino Unido, em 1948; a Finlândia, em 1956; a Suécia, em 1957; a Alemanha, em 1961. Outros países europeus também são citados, e grande parte deles possuem hoje altos índices de IDH. A Grécia, pelo contrário, não tem programas de transferência de renda (pelo menos até a publicação do estudo). Evidentemente consideradas as circunstâncias, e diversos outros fatores que não apenas os programas de transferência de renda, não preciso lembrar em que situação lamentável os gregos se encontram.

E isto pra deixar claro que programa de transferência de renda não é, por essência, política de país populista e corrupto.

Escrito por Sydnei Melo - Campinas SP  - e-mai: sydneiulisses@gmail.com


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