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domingo, 31 de março de 2013

CAFARNAUM, JUNHO, ANO XXVIII d.C.


PASSARAM-SE DOIS MESES desde a reunião na casa de Simão e, novamente, não aconteceu nada de novo. Os homens retomaram suas rotinas de trabalho, mas em seus peitos ainda batia forte a esperança de que, a qualquer momento, tudo poderia mudar.


As cabeças abrigavam ainda mais forte o sonho de libertação e independência. Entretanto, era consenso geral que o Messias não iria procurá-los, todos acreditavam nisso, somente Simão pensava diferente.

Passavam das oito horas da manhã. O dia estava chuvoso e as águas do mar revoltas. Simão e André tinham acabado de ancorar o barco. Ao lado deles, Zebedeu e seus filhos João e Tiago faziam o mesmo. Desde cedo tentavam sair para pescar, mas foi em vão, uma grande tempestade seguida de um vendaval os obrigou a retornar.

Devido ao esforço para controlar o barco por conta da força das ondas, estavam exaustos, tentando lavar e limpar as redes. Lamentavam-se da sorte e discutiam o que fazer, não tinham nada que pudessem vender. Só um milagre poderia dar-lhes o sustento do dia.

Resolveram então que iriam procurar um trabalho onde pudessem ganhar alguns trocados para amenizar o prejuízo.

Quando chegaram em terra firme, juntaram-se a Zebedeu e seus filhos a fim de irem juntos para casa. Quem sabe eles não tinham uma boa ideia? De repente, perceberam que um Homem alto, atlético, de barba bem cuidada e usando uma túnica comprida vinha na direção deles. Estava sorrindo e a felicidade parecia estar estampada no Seu rosto.

— O que aconteceu, irmãos? Que caras de poucos amigos são essas?

— A tempestade e a ressaca do mar afugentaram os peixes, Senhor! — disse Simão.

— E pra onde estão indo agora? — perguntou o Homem, sempre sorrindo.

— Vamos para casa guardar os apetrechos e depois sair por aí procurando trabalho. Precisamos alimentar nossas famílias!

— disse André.

— Ora, ora! Mas que bobagem! Que tipo de trabalho estão pretendendo fazer?
— Qualquer coisa! — disse Simão, mais interessado e curioso.

Então o Homem chamou Zebedeu, João e Tiago, que a tudo observavam um pouco afastados, juntou-os a Simão e André e lhes falou:

— Vocês são pescadores, não sabem fazer outra coisa! E dirigindo-se a Simão, disse-lhe:

— Vá e jogue novamente sua rede, pescador! Simão olhou para Ele, depois para os amigos e finalmente fixou o olhar no mar que parecia estar ainda mais revolto.

Não acreditava no que estava ouvindo. Quem é esse Homem que lhe mandava jogar a rede nessa tempestade?, perguntava-se.

Nesse momento começou a chover e a trovejar. Os barcos batiam uns nos outros tal era a força das águas.

— É impossível jogar a rede nessas condições! Não sei se conseguiria nem chegar ao barco! E por que deveria jogá-la? Seria uma perda de tempo, a ressaca afugentou os peixes, já disse! — Simão falou um pouco irritado.
O Homem não alterou a voz nem desfez o sorriso.

Num gesto de carinho tocou no seu ombro, dizendo-lhe suavemente:

— Não precisa pegar o barco, Simão! Jogue a rede ali mesmo! — e apontou para a beira da praia.

Simão surpreendeu-se ao ouvi-Lo chamar pelo seu nome sem o conhecer. Sorriu ironicamente, mas resolveu atender ao pedido, assim, se livraria Dele mais rapidamente. Dirigiu-se, então, para o local indicado e jogou a rede.

Notou que alguns pescadores que estavam por perto, ainda dentro dos seus barcos, começaram a rir. Simão sentiu-se incomodado, estava fazendo um papel ridículo. Por que tinha de submeter-se aos caprichos Daquele Homem?, perguntava-se.

Irritado, resolveu dar um fim naquilo tudo e preparou--se para recolher a rede. Ao primeiro puxão caiu sentado, a rede estava tão pesada que não conseguiu movê-la. Ele não entendeu nada. Deve estar presa numa pedra!, pensou. E novamente tentou puxá-la, mas outra vez não conseguiu. Percebeu que a chuva tinha passado de repente e havia também parado de trovejar. Então, virou-se e fez um sinal para os amigos virem ajudá-lo.

— A rede prendeu numa pedra! — gritou.

Quando eles chegaram e começaram a puxá-la, tomaram um grande susto: a quantidade de peixes era tão grande que não cabia nela. Pulavam para todos os lados, muitos passando pelas suas cabeças e caindo na areia da praia. Imediatamente arrastaram a rede e a despejaram na areia.

Sempre sorrindo, o Estranho mandou jogar de novo.

E novamente a rede veio abarrotada de peixes. Eles ainda a jogaram por mais quatro vezes. Exaustos, atiraram-se no chão e, abraçados uns aos outros, rolavam na areia e riam como crianças.

Vez por outra, levantavam as mãos para o céu, louvando ao Senhor. Por algum tempo, permaneceram deitados de braços abertos, em silêncio. Ao lado deles, a pilha de peixes era enorme e já havia muitas pessoas aglomerando-se no local, velhos, mulheres e crianças, todas querendo levar seu peixe para casa.

Foi quando se lembraram do Estranho e O procuraram. Ele estava orientando as pessoas que tinham corrido para a praia, incentivando-as a pegarem os seus peixes. Continuava sorrindo e com a mesma felicidade de antes, dizia para todos:

— Venham! Podem pegar o que quiserem! Tem peixe para todos...!

Eles também trataram de recolher os seus, colocando- -os nos cestos. Depois que terminaram o trabalho, foram procurar o Estranho que tinha sumido de suas vistas.

Encontraram-No sentado num barco que estava sobre uns cavaletes na praia. Quando chegaram à Sua frente, atiraram-se aos Seus pés, beijando Sua túnica. O Estranho imediatamente desceu do barco e mandou-os levantar, dizendo:

— Ora, o que é isso! Vocês não precisam me agradecer. Agradeçam ao Pai que nunca desampara seus filhos! Simão não sabia o que dizer. Olhava-O fixamente tentando encontrar alguma coisa que pudesse explicar tudo aquilo que acontecera. Agora, olhando-O de perto, podia ver bem o Seu rosto e constatar o quanto era belo. Nunca vira antes alguém com uma beleza tão singular. Com muito esforço, conseguiu balbuciar:

— Quem é o Senhor?

Mas Ele não respondeu. Colocou as mãos no seu ombro e disse-lhe:

— Simão, você é pedra, e sobre ela erguerei minha igreja. Você será o artífice da sua construção! A partir de hoje vai se chamar Simão Pedro!

E virando-se para os outros, disse-lhes sorrindo:

— A partir de agora vocês não serão mais pescadores de peixes, eu os farei pescadores de homens!

Os amigos entreolharam-se, mas não tiveram coragem de perguntar nada. Depois, virou-se para Zebedeu e pediu-lhe que convidasse seus amigos e marcasse uma reunião à tarde na casa de Pedro. Tinham muitas coisas para conversar. Por fim, abraçou Pedro e, fazendo um sinal para os outros indicando que lhes seguissem, falou baixinho no seu ouvido:

— Pedro, eu estou sem comer nada desde ontem à noite. Em sua casa não tem uma comida gostosa para me oferecer?

Por: Zel Pinto

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