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quinta-feira, 13 de março de 2014

O CRIME DA AGIOTAGEM – A DESCASO DOS PODERES PÚBLICOS QUANTO AS CONSEQUÊNCIAS PARA O DEVEDOR AS FAMÍLIAS

O crime da agiotagem se expande com praga por todas as regiões do país e o Estado de Sergipe não seria exceção a progressão dessa prática mesquinha e aproveitadora que é praticada por algumas pessoas, inclusive, ou na sua maioria, policiais, comerciantes, políticos ou protegidos por políticos locais, as quais abusando da fragilidade e situação de vulnerabilidade de outras pessoas emprestam dinheiro a juros excessivos, em percentuais superiores àqueles legalmente permitidos em lei e uma vez os devedores se tornem inadimplentes e sem possibilidades de pagamentos, são achacados, quando não mortos por integrantes de milícias ou por capangas dos agiotas.


A prática da agiotagem é considerada crime contra a economia popular, ficando o agiota sujeito às penalidades do artigo 4º da Lei 1.521/51. Além disso, pode ainda ser configurado crime contra o Sistema Financeiro Nacional, posto que o agiota atua no mercado financeiro sem autorização pelo Banco Central para tanto.

         De fato, nesses tempos tenebrosos em que o consumo compulsivo está levando parte da população a uma roda viva do endividamento, muitos cidadãos consumidores excluídos do mercado formal de crédito são presas fáceis dos aproveitadores.

         A facilidade de contrair crédito induz as pessoas a se tornarem inadimplentes do sistema financeiro formal, o qual, diga-se de passagem, também pratica agiotagem das mais descaradas, uma vez superendividados, excluídos completamente do sistema capitalista, adentram no inferno das dívidas sobrepostas e, provavelmente, impagáveis, essas contraídas junto aos agiotas.
  
         Segundo o filósofo Michael Sendel o fenômeno do superendividamento, da destruição pessoal e das famílias pelo consumo excessivo e pelas dividas, embora não seja específico, é um fenômeno mais presente naqueles países onde está se dando a transição de uma economia de mercado para uma sociedade de mercado, na qual tudo pode ser posto à venda e os valores de mercado dominam todos os aspectos da vida: relações pessoais, vida familiar, saúde, educação, política, leis, vida cívica etc.      É o caso do Brasil onde o favorecimento ao consumo desvairado e ao endividamento pode ser observado no assédio publicitário e de marketing diuturnamente na mídia e, também, na proliferação dos pequenos bancos exclusivamente para concessão de empréstimos consignados que são instalados em quase todos os municípios brasileiros, ofertando crédito fácil a aposentados, beneficiários do Bolsa Família e assalariados em geral.

         Ocorre que, o assédio consumista, depois de produzir a massa de endividados, impossibilitados de sobreviverem no sistema capitalista, que pressupõe a posse do dinheiro e acesso ao crédito para a aquisição de bens, remete essa massa de endividados ou para os grandes bancos fazerem o refinanciamento das dívidas ou para as garras dos agiotas que grassam inclusive no interior das repartições públicas.

         Os endividados impossibilitados de acesso ao crédito formal e acossados pelos agiotas são como refugo humano, estão longe de Wall Street ou da Avenida Paulista, não gozam da simpatia dos poderes públicos e são relegados à própria sorte para perderem dedos, terem filhas e mulheres estupradas por capangas desses mesmos agiotas, quando não mortos em situações quase nunca esclarecidas e lançados em lugares ermos das periferias.

         Enquanto isso os agiotas menores, aqueles que não são donos de bancos, mas que nem por isso não são financiadores ou compradores de autoridades e políticos nas redes sociais, exibem fotos dos seus carrões, falam dos imóveis, nas ruas se exibem como se fossem seres superiores.

         O esquema da agiotagem não oficial é sempre o mesmo, o agiota faz o empréstimo calçado em uma garantia, como por exemplo, a entrega de cheques, entrega do cartão bolsa família, uma casa, um automóvel ou qualquer outro bem de valor. Alguns chegam até a transferir antecipadamente o imóvel ou o automóvel para o seu nome, como garantia de pagamento, e cobram juros sobre juros, de tal forma que o consumidor nunca mais consegue quitar a dívida.

         Os agiotas estão à solta, muitas vezes são pessoas conhecidíssimas das autoridades, com as quais convivem e tomam assentos nas rodas sociais, para consecução das suas atividades criminosas fazem todo tipo de chantagem, difamam as pessoas nas ruas, eles são incansáveis por mais que o devedor pague o débito contraído, mas eles dizem que a vítima deve.

         A praga da agiotagem se espraia como se fosse varíola no continente africano nos séculos XVII e XVIII e até antes do aparecimento da vacina. Muitas vítimas da agiotagem que fogem dos seus carrascos e se mudam das cidades do interior, se escondem nas periferias de Aracaju, algumas delas tem, inclusive, procurado o Núcleo de Defesa de Direitos Humanos da Defensoria, que pouco pode fazer, visto que a agiotagem se trata de crime de ação pública incondicionado, um fenômeno que está aí as escancaras exigindo a atuação das autoridades para combatê-lo, talvez não o façam porque não obtém dividendos políticos ou refrigérios para os seus egos megalômanos.


Por: MIGUEL DOS SANTOS CERQUEIRA, Defensor Público, titular da Primeira Defensoria Pública Especial Cível do Estado de Sergipe, Coordenador do Núcleo de Defesa de Direitos Humanos da Defensoria - E-mail: migueladvocate@folha.com.br.



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