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terça-feira, 9 de julho de 2013

APOSENTADORIA ESPECIAL


Efetivamente, o dia da concessão da aposentadoria é um dia muito especial, inesquecível pra quem já se aposentou. Lembro-me bem o dia em que saí do posto do INSS com a Carta de Concessão nas mãos: estava tão feliz que não me dei conta de que meu carro estava na porta da repartição e andei quase dois quilômetros para pegá-lo.


Pra meu amigo, Gilson, não foi diferente. Contou-me uma história interessante sobre a sua experiência da aposentadoria por tempo de serviço.
A história começa na noite mal dormida, véspera do dia agendado pelo INSS. A expectativa pela obtenção da tão sonhada aposentadoria não o deixou dormir.Pela manhã, logo cedo, com olheiras enormes, partiu rumo a sua jornada. O horário agendado era às dez horas da manhã, mas ele saiu às oito. Considerando o engarrafamento, estacionamento e ainda as formalidades legais até o atendimento propriamente dito, estava de bom tamanho.

Logo perto de casa uma surpresa: o trânsito estava travado. Através de um taxista, ficara sabendo que perto dali acontecera um acidente, um motociclista fora atropelado e o corpo ainda estava na pista, dificultando o tráfego. Apenas uma viatura da Polícia Militar encontrava-se no local, a SAMU ainda não havia chegado. O jeito era esperar.

Dentro do carro, veio-lhe a ansiedade característica de quem está esperando algo. E o que é o pior: Tinha nitidamente a sensação de que faltava-lhe algo. O quê? – perguntava-se várias vezes desde que saíra de casa, quando tivera o primeiro sintoma de vazio, mas não conseguia vislumbrar nada de anormal. Conferira várias vezes os documentos requeridos pelo INSS que trazia num envelope, entretanto, no auge dos seus sessenta e poucos       anos,tornara-se comum, de quando em vez,ocorrer-lhe lapsos de memória e confusão mental. Uma vez, deu-se conta que estava na praça de alimentação de um grande shopping, mas não conseguia lembrar-se porque estava ali nem como chegara àquele local. Até hoje não lembra...

O tempo passava rapidamente, já passavam das nove e ele, ali, parado, ainda perto da sua residência, não andara dez metros. Hoje vai ser um dia de cão!Pensou, já desiludido.

Foi quando tomou uma decisão: iria verificar in loco o que realmente ocorrera, quem sabe não conseguiria convencer algum policial a abrir uma brecha no trânsito?

Chegando ao local viu um jovem estirado no asfalto, já sendo atendido pelos paramédicos e uma moto ao lado, completamente destruída, porém, não conseguiu identificar o veículo atropelador,com certeza evadira-se, pensou.

Aparentemente o rapaz não apresentava lesões graves, não observava nenhum indício de sangue. Notara também que estava consciente, pois conversava normalmente com os médicos. Pensou em falar com o agente que controlava o trânsito para abrir o caminho, mas um ímpeto de curiosidade o acometeu e decidiu aproximar-se da vítima para vê-lo mais de perto. Foi o seu erro. Assim que o rapaz o viu, mesmo imobilizado, tentou desvencilhar-se das pessoas que o atendiam e, com o indicador apontado para ele, gritava quase histérico:

          - Foi ele!!!

Completamente descontrolado, o jovem tentava levantar-se fulminando-o com o olhar acusativo.

- Foi ele quem me atropelou! – não cansava de dizer.

Antes que pudesse sequer pensar no que estava acontecendo, sentiu um encontrão no pescoço e percebeu que alguém o puxava pelo colarinho. No momento seguinte já o conduzia em direção à viatura policial que, a esta altura, se encontrava com as portas abertas. Jogado no banco traseiro entre dois policiais, que o olhavam com caras de poucos amigos, o veículo seguiu rumo à delegacia.

Até esclarecer tudo com o delegado, inclusive com depoimentos de vizinhos que o viram saindo do prédio depois do acidente, passaram-se cinco horas. Saiu da delegacia exatamente às 15 horas e, resoluto como era, resolveu que iria ao INSS de qualquer jeito. Agendar uma nova uma nova data, significaria, pelo menos, mais trinta dias. Então pegou um táxi e foi para lá.

Chegou quando faltava meia hora para o encerramento do expediente. Havia cerca de cinco pessoas na fila de triagem, então resolveu encarar. Quando já estava prestes a ser atendido, constatou, desiludido, que deixara o envelope com os documentos no carro. Chegara a sua vez de ser atendido e ele não sabia o que fazer. Uma linda jovem o encarava esperando pacientemente pela sua solicitação. Completamente arrasado, por desencargo de consciência, contou para ela tudo que havia acontecido. Quando já se preparava para ir embora, uma surpresa: a atendente, extremamente educada e demonstrando simpatia pela sua pessoa, depois de solicitar seus documentos pessoais e digitar algumas informações no computador, disse-lhe:

          - Como última informação o senhor poderia abrir sua camisa senhor Gilson?

Mesmo sem nada entender, fez o que a moça pediu e abriu sua camisa expondo os pelos do peito, já totalmente embranquecidos.

            - Foi o que eu pensava – disse-lhe a jovem, concluindo. Está tudo certo,a sua aposentadoria acaba de ser concedida.

Ele não entendeu absolutamente nada. Como isto poderia acontecer já que não apresentara a carteira profissional? Perguntava-se.

A jovem gentilmente explicou sua decisão:

          - Eu confio nas informações que o senhor forneceu e, principalmente, nos seus cabelos brancos.

Saiu do INSS completamente atordoado, não tivera nem pensamentos pra comemoração, sua única vontade agora era ir pra casa contar tudo pra sua mulher.

Depois de ouvir tudo, sua esposa, para sua surpresa, em vez de dar-lhe um beijo de reconhecimento pelo seu esforço,colocou as mãos nas cadeiras e com um muxoxo, ironicamente disse-lhe:

         - Você perdeu tempo, homem! Bastava abrir a braguilha e estava tudo resolvido: a sua aposentadoria seria por invalidez!

* Zel Pinto é escritor, economista e professor no ensino superior

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